Visões
Sistema braile
Fabiana Bonilha, junho de 2005
O que é o braile?
O sistema braile é o código tátil de leitura e escrita universalmente adotado pelos cegos.
Ele é constituído por 63 caracteres, resultantes da combinação entre 6 pontos em relevo, dispostos em duas colunas verticais, e numerados de cima para baixo e da esquerda para a direita. O conjunto matricial formado pelo total de pontos dá origem ao sinal fundamental, a partir do qual derivam os demais caracteres.
O espaço ocupado por cada caracter é chamado cela braile. Cada cela possui uma medida fixa, correspondente ao tamanho padrão de um dedo indicador, de forma a se garantir a fluência da leitura.
O conjunto de caracteres se apresenta, convencionalmente, em uma seqüência denominada ordem braile sendo que esses caracteres se distribuem em 7 séries, logicamente constituídas, apresentadas a seguir. A primeira série é formada pelos sinais superiores, que são constituídos apenas pelos pontos 1, 2, 4 e 5.
As 4 séries seguintes derivam desses sinais. Assim, a segunda série constitui-se pelos sinais superiores acrescidos do ponto 3.
Na terceira, esses sinais são acrescidos dos pontos 3 e 6.
E, na quarta, é acrescentado a eles o ponto 6.
A quinta série é formada pelos sinais inferiores, (constituídos pelos pontos 2, 3, 5 e 6), e reproduz formalmente a primeira.
A sexta série contêm sinais formados pelos pontos 3, 4, 5 e 6.
Por fim, a sétima série se constitui por sinais da coluna direita, (formados pelos pontos 4, 5 e 6).
Os sinais que ocupam apenas uma cela são denominados sinais simples, enquanto aqueles que ocupam um maior número de celas se denominam sinais compostos. Por exemplo, os números são sinais compostos formados pelo sinal de número, associado a algum sinal da primeira série. A seguir são apresentados os dígitos 1 à 9, seguido do dígito 0 (zero).
A leitura braile é realizada no mesmo sentido em que se lê em tinta, ou seja, da esquerda para a direita. Deve-se notar que existe uma grande variação no que se refere à velocidade com que os usuários do braile fazem a leitura. Mas destaca-se que os leitores mais hábeis podem ler com a mesma fluência com que os videntes lêem em tinta.
Histórico
Antes da criação do sistema braile, as pessoas com deficiência visual eram alfabetizadas por meio de um código em que as letras em tinta eram representadas em relevo. Evidentemente, a adoção desse código não permitia que elas tivessem fluência na leitura e na escrita, bem como dificultava a produção dos materiais.
Louis Braille, o inventor do sistema braile, nasceu na pequena cidade francesa chamada Coupvray, em 1809. Por ocasião de um acidente sofrido na oficina de seu pai, que era carpinteiro, Louis Braille ficou cego. Após estudar por algum tempo em uma escola de sua cidade, ele ingressou, em 1819, no Instituto Real para Cegos em Paris, onde foi alfabetizado por meio do código vigente até então.
Em 1821, um capitão de artilharia chamado Carlos Barbier de la Serre visitou essa instituição, no intuito de apresentar um código criado por ele, que visava facilitar a comunicação noturna entre os militares. Para criar seu sistema de escrita, Louis Braille foi influenciado pela idéia do Capitão Barbier, de modo a compatibilizar esse código à realidade dos cegos.
Considera-se que 1825 tenha sido o ano da criação oficial do código braile. Porém, somente em 1829, o próprio Louis Braille publicou a obra intitulada: “Processo para Escrever as Palavras, a Música e o Canto-Chão por meio de Pontos, para Uso dos Cegos e dispostos para Eles”.
Deve-se notar que, inicialmente, houve uma grande resistência para que o código braile fosse adotado como um sistema oficial. Apenas em 1854, ele passou a ser oficialmente adotado na França e, a partir de então, foi divulgado em outros países. No Brasil, o braile foi adotado nesse mesmo ano, trazido por José Álvares de Azevedo, um escritor cego brasileiro, que havia estudado no Instituto Nacional Francês, onde estabeleceu contato com o sistema. A introdução do braile no Brasil foi um dos fatores que motivaram o Imperador D. Pedro II a criar, na cidade do Rio de Janeiro, por Decreto Imperial, a primeira instituição educacional de cegos: o Imperial Instituto dos Meninos Cegos. Em 1891, essa instituição foi renomeada como Instituto Benjamin Constant (IBC).
Grafia braile para a Língua Portuguesa
O código braile consiste em um sistema flexível que, constantemente, necessita ser adequado aos contextos históricos e culturais onde ele é adotado. Disso decorre a necessidade de que haja diversas comissões em diferentes países, as quais se empenham no estudo dessas adaptações recorrentes.
No Brasil, destaca-se a Comissão Brasileira do Braille que, juntamente com a Comissão de Braille de Portugal, dedica-se a atualizar a Grafia Braille para a Língua Portuguesa, Química e ao estabelecimento de Normas Técnicas para a produção de textos em braile. Esses materiais são produzidos e distribuídos pelo Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial.
Tendo em vista os avanços da ciência e da tecnologia e o conseqüente uso de novas linguagens escritas, foi feita recentemente uma nova atualização para esta grafia, em vigência desde 01 de janeiro de 2003.
Aplicações
Pode-se considerar que o braile consiste em um sistema polivalente, uma vez que os mesmos caracteres podem comportar diferentes significados, de acordo com o contexto em que aparecem. Desse modo, o mesmo conjunto de caracteres é utilizado para representar diferentes simbologias, tais como: textual, matemática, química, musical, etc.
Algumas dessas simbologias foram estabelecidas inicialmente pelo próprio Louis Braille, como é o caso da notação musical. Uma vez que o inventor do sistema era organista, ele se empenhou em adaptar o código para a Música, criando o que se convencionou chamar de Musicografia Braille. Diferentemente do que ocorre em relação à notação musical em tinta, uma partitura transcrita para o braile é sempre disposta horizontalmente, o que acarreta na existência de algumas peculiaridades dessa notação.
Recursos
Existem alguns instrumentos através dos quais se pode escrever em braile. Dentre eles, o mais simples (e também mais econômico) chama-se reglete, e consiste em uma régua em que se prende uma folha de papel. Com o auxílio de um outro instrumento denominado punção, os pontos são produzidos.
Uma vez que os furos são feitos no verso da folha, deve-se notar que o usuário de uma reglete escreve em sentido oposto ao da leitura, ou seja, da direita para a esquerda.
Outro instrumento com que se pode escrever em braile é a máquina Perkins. Trata-se de uma máquina de datilografia em que há seis teclas, que por sua vez representam os seis pontos da escrita braile.
Atualmente, também existem impressoras braile, através da qual se pode imprimir qualquer texto digitalizado. A criação dessas impressoras representou uma conquista muito significativa no que se refere à agilidade e ao aumento da produção de textos em braile.
Referências
Braille Virtual/USP
Instituto Benjamin Constant (IBC)
Secretaria de Educação Especial (SEESP/MEC)
REILY, L. Escola inclusiva: linguagem e mediação. Campinas: Papirus, 2004, 188p. (Série Educação Especial).